A Escola e a Família como
alicerce para reduzir a Violência
Josiany Dórea
O
tema é muito complexo e não traz soluções imediatas e mágicas. A Escola é uma
instituição que poderá contribuir muito para a formação da cidadania. Um espaço
que amplia novos caminhos, possibilidades e desafios. Por sua vez, a família é
uma instituição base na formação do ser. E imaginemos no poder que possuímos com
as duas instituições unidas com um propósito primordial e desafiante: construir
seres humanos cada vez mais comprometidos com a ética e cidadania.
Vejamos
uma entrevista muito interessante da revista Páginas Abertas, da editora
Paulus, com a Dra. Edith Rubinstein. Ela é formada em pedagogia, psicopedagogia
e mestre em Psicologia da Educação. Também é especialista em Mediação
Educacional formadora de PEI pelo ICELP de Jerusalém, terapeuta família, coordenadora
e docente do Centro de Estudos Seminários de
Psicopedagogia e ex-presidente e membro do conselho nato da Associação
Brasileira de Psicopedagogia.
Revista
Páginas Abertas: Pela sua experiência, é
possível dizer onde nasce a violência? Em casa, na família, na escola?
Dra. Edith Rubinstein: Entendo
a violência humana como efeito de uma construção complexa. O ser humano não é
por natureza violento, ele se constitui na relação com o outro, portanto é
possível pensar numa construção social. A constituição do ser humano é complexa
e os diferentes contextos por onde se dá a convivência contribuem ou não para
um equilíbrio emocional saudável.
PA:
Em sua visão quais são impactos que a violência pode causar no ambiente
escolar?
ER:
Infelizmente a violência pode estar presente no ambiente escolar, mas ser
proveniente não somente do contexto escolar. Crianças vítimas de violência em
outros contextos aprendem formas violentas de responder às diferentes
situações, diferentes contextos. Dificuldade para aceitação de normas e regras,
dificuldades para suportar a frustração diante do não aprender poderão produzir
respostas entendidas como agressivas ou violentas. Portanto, nem sempre
respostas violentas são efeito de experiências violentas; a violência poderá
aparecer como um sintoma de outras vivências de sofrimento. Embora a escola
tenha como função a formação acadêmica, sabemos que essa função não é
suficiente para promover uma formação global do cidadão.
PA:
Como a família e a escola podem lidar com a violência? Existem modelos de
prevenção?
ER:
A instituição escolar deve estar preparada para acionar dentro de seu contexto
ou de sua rede o apoio profissional necessário para lidar com a violência e
seus efeitos. Também a equipe multidisciplinar escolar deverá, em conjunto,
construir possíveis caminhos para a dissolução das questões que atingem o
contexto como um todo. Entendo que a dissolução do problema dependerá não
somente do especialista, mas do envolvimento de uma rede e de uma equipe que,
em conjunto, irão construir possíveis propostas que demandarão análise crítica
e formulações para gerar respostas satisfatórias. Não há soluções antecipadas e
certeiras. Casa situação demanda uma construção específica.
PA:
Como família e escola podem contribuir para um sistema de educação saudável?
ER:
Um sistema de educação formal saudável inclui o diálogo, a colaboração e a
cooperação de todos os envolvidos na instituição. Constrói-se um contexto
democrático quando as regras e o sistema relacional são conhecidos, construídos
e aceitos pelo grupo.
PA:
E a família?
ER:
Na educação não formal familiar é importante que os adultos estejam mais
seguros na condução da educação pelo diálogo. A contenção e colocação de regras
na medida certa são fundamentais para lidar com as tensões pertencentes à cada
etapa do desenvolvimento da criança e do jovem. Ninguém nasce preparado para
ser pai e mãe, nem para ser filho. É no convívio social que se constroem esses
lugares. Não há manuais que atendam a cada singularidade humana.
PA:
Como funciona o atendimento psicológico de um professor que sofreu algum caso
de violência?
ER:
Toda pessoa vítima de violência demanda cuidados especiais de profissionais da
área da psicologia, bem como o apoio e acolhimento da instituição como um todo.
PA:
Entre alunos é comum que haja períodos de vida de maior revolta e violência?
Como o professor, escola e família podem ajudar?
ER:
Nem sempre a violência está relacionada com uma etapa da vida; ela pode,
fundamentalmente, estar ligada a experiências violentas. Situações de abandono
precoce dos adultos e internações em abrigos não promovem um desenvolvimento
saudável. Há histórias de abandono de crianças que são adotadas ainda muito
jovens (antes dos três anos) e devolvidas para instituição por adultos que não
conseguiram dar continuidade ao projeto de adoção. Essa experiência dolorosa
pode gerar violência.
PA:
Quando é indicado um acompanhamento psicológico para alunos ou professores?
ER:
O acompanhamento psicológico para qualquer pessoa é indicado para o alívio e a
reabilitação emocional por diferentes causas que venham a proporcionar
sofrimento.
PA:
Qual seria o modelo escolar considerado ideal para a aprendizagem?
ER:
Não acredito que haja um modelo único e ideal de escolarização. Dependerá
também da escolha de cada comunidade, de seu projeto político pedagógico. Mas,
de modo geral, no contexto da escola são considerados saudáveis os modelos que
envolvem: promoção da autonomia de todos os envolvidos na instituição; a
colaboração entre pares; ambiente que favoreça o diálogo e, com certeza, uma
proposta que ofereça aprendizagem significativa, criativa e que se preocupe com
a construção de pessoas críticas, respeitadoras das diferenças e ativas.
PA:
Qual o papel da família e da escola nesse modelo?
ER:
No contexto familiar, é importante que os valores éticos e regras de
convivência sejam compartilhados como significativos para o bem-estar do grupo
e de cada membro. Tenho ouvido com frequência a pergunta: “Meu filho manda em
mim; e agora, o que faço? ”. Esses questionamentos expressam a falta de
discriminação entre os adultos que artificialmente excluem a assimetria. Será
que a criança pode tomar decisões sobre a sua condução? Ela tem experiência de
vida para isso?
PA:
Como o professor, a família e a escola podem ajudar a cria uma sociedade menos
violenta?
ER:
A violência, tal como a guerra, ocorre quando a diplomacia e a educação falham.
Adultos mais preparados emocionalmente poderão lidar com mais habilidade com os
inevitáveis e inesperados desafios pertinentes a qualquer agrupamento humano.
Uma sociedade menos violenta requer a construção de um contexto em que o
diálogo e o respeito mútuo estejam presentes na ação de todos os envolvidos.
Códigos escritos por si só não garantem a inexistência da violência.
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