sábado, 31 de dezembro de 2011

FELIZSOFANDO COM EPICURO: A MEDIDA DA FELICIDADE

Por Josiany Dórea

A quinta conversa afinada foi realizada no dia seis de novembro e nos concebeu um bate papo sobre um tema delicado e extensivo: Felicidade. Primeiramente, nos vem no pensamento: e a felicidade pode ser medida? Se pode, como podemos ter um embasamento para sua medição? Para nos guiarmos sobre essa questão busquemos entendimento na Filosofia.

E nada melhor que a Filosofia para nos promover esse encontro com o objetivo de refletir e analisar o tema Felicidade relacionando com a Filosofia Antiga e a vida contemporânea.

Fazendo uma breve viagem pela Filosofia percebemos que a o filósofo Platão (428-347 a.C) afirmara que “são chamados felizes aqueles que possuem bondade e beleza” (Rep.,I 353d.segs). Para o contemporâneo de Platão, o filósofo Aristóteles (384-322 a.C), a felicidade “é uma atividade da alma, desenvolvida em conformidade com a virtude”(Ética.Nicômaco,p.09). Percebemos, então que Aristóteles considera a Felicidade um bem supremo relacionado com a conduta humana.

Contudo, é a partir da Carta sobre a Felicidade inscrita pelo filósofo Epicuro (241-270 a.C), que encontramos a receita para sermos felizes. Ele afirmara que o prazer é inseparável da alma e da realização plena da autossuficiência. Assim, ficou conhecida a corrente filosófica chamada Epicurismo, formado pelos seguidores de Epicuro. Os epicuristas também eram chamados de Filósofos do Jardim, devido à escola filosófica fundada por Epicuro, em Atenas.

Para dinamizar e contemplar a Filosofia de Epicuro com a atualidade iniciamos o nosso encontro com uma música de Luiz Tatti, interpretada por Zélia Ducan (ver primeiro vídeo abaixo), chamada de Felicidade. Vale ressaltarmos que o autor da música é compositor e professor titular do Departamento de Linguística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. A música foi lançada em 1997 em seu primeiro CD. A música aborda o contraponto da felicidade “Não sei por que estou tão feliz... Não sei o que é que foi que eu fiz para estar radiante de Felicidade (...). Será que precisamos de um motivo para sermos felizes?

Para explanar mais sobre o tema, o vídeo exibido Filosofia: um guia para a felicidade nos remeteu a uma passagem pela vida e obra do filósofo Epicuro. Vídeo apresentado por Alain de Botton, escritor e produtor que em seus programas de televisão debatem diversos assuntos e temas contemporâneos em um estilo filosófico, enfatizando a filosofia para a vida cotidiana.

Na sequência do Vídeo percebemos a importância de conhecermos a Filosofia de Epicuro em uma linguagem atual correlacionado com a vida moderna. Vale destacar os três ingredientes para a Felicidade, segundo Epicuro: ter amigos, ter liberdade (ser autossuficiente) e o terceiro ingrediente era ter uma vida bem analisada (reservássemos tempo para reflexão e fazer uma análise do que nos preocupa).

Allan Botton encerra o vídeo com uma questão reflexiva para a nossa vida cotidiana. Ele questiona:

“Podemos comprar o que quisermos em um shopping cheio de lojas coloridas, vendendo produtos bem feitos. Mas, o que Epicuro pergunta é: será que locais assim fornece os ingredientes da Felicidade? Ele pensava, e eu concordo, que não. Pode ser difícil conseguir a felicidade como Epicuro admitia. Mas ele também insistia que os obstáculos não são financeiros”.

Na oportunidade de relacionar o que de fato nos remete hoje a uma vida feliz, associamos aos bens materiais e as necessidades de adquirimos mais e mais produtos para satisfazermos nossas vontades de consumo. Desta forma, analisamos o efeito que a propaganda faz em uma sociedade em que prevalece o ter (dinheiro, status, roupas de marcas, carros importados, entre outros) ao invés do ser (honestos, companheiros, solidários, tolerantes, amigos, alegres, etc.).

Continuando o tema, Mary iniciou sua apresentação explicando sobre o poder que a propaganda exerce sobre as pessoas na vida atual. À medida que apresentava as propagandas antigas (anos 1960-2010) que influenciaram nosso comportamento consumista, verificamos que várias delas nos acompanham até hoje. Bastava ouvir a música ou olhar a imagem para identificarmos a marca do produto.

A leitura interpretativa das propagandas também nos chamou atenção sobre a forma agressiva e apelativa da publicidade em apresentar os produtos e suas utilidades. Percebemos também a duplicidade da propaganda, conhecida como casadinha.

Somos condicionados a relacionar felicidade com desejo de consumir produtos de marcas famosas.

Vale ressaltar que o pensamento tão atual e ativo de Epicuro não quer dizer que devemos viver sem ambição ou sem conforto. Acredito que a essência do pensamento
Epicurista é nos mostrar que não precisamos dos excessos para encontrar a felicidade e cabe a cada um refletir e analisar até onde vai sua necessidade e seu exagero de consumo. Na maioria das vezes, precisamos de pequenas coisas para realmente viver o estado da felicidade.

Enfim, a felicidade é um estado ou momento individual que ocorre a partir das experiências de vida de cada ser humano. Portanto, não pode ser medida e nem julgada. Contudo, é necessário analisar e refletir o que torna uma sociedade feliz englobando seus aspectos sociais e econômicos em sua totalidade.

Finalizamos com duas músicas que abordam a felicidade, porém, em forma diferente.

A música Antes que seja tarde, do cantor e compositor Ivan Lins, inscrita em 1978, retrata um apelo à felicidade:

“(...) Com força e com vontade a felicidade há de se espalhar com toda intensidade”... Há de mudar os homens, antes que seja tarde (...).

E por fim, a música interpretada pelo cantor Fábio Junior (ver segundo vídeo abaixo) contemplando a Felicidade:

“Felicidade brilha no olhar. Como uma estrela que não está lá! (...) é uma viagem, simples magia... Uma ilusão que a gente não esquece e que espera viver um dia (...)”.

Agradecemos todos os presentes em mais uma conversa afinada que enriqueceu nosso dia e proporcionou um momento feliz.


Josiany Dórea é graduada em Filosofia com especialização

em História Social e Econômica do Brasil

Josemary Dórea é graduada em Administração com Marketing




domingo, 18 de dezembro de 2011

MEIO AMBIENTE X QUALIDADE DE VIDA - PARTE II

APRESENTAÇÃO

Por Josemar Dórea

Crescentemente, lemos na mídia várias manchetes de animais selvagens encontrados nas ruas e casas da zona urbana. Onças, cobras, macacos e até ursos são figuras costumeiras nos quintais das residências. Isto reflete que estamos destruindo o habitat desses animais que vão buscar alimentos e abrigos na cozinha de nossas casas.

O problema são os animais que mal podemos ver como os insetos, que transmitem ao homem várias doenças. Esta abordagem foi o principal assunto do segundo encontro do tema Meio Ambiente x Qualidade de vida. Jaciene Santos falou sobre a relação dessas doenças com a degradação ao Meio Ambiente.

O homem precisa entender que a Natureza é soberana e tudo que fizemos de mal para ela nos retorna e na maioria das vezes de forma irreversível.

Algumas Doenças Transmitidas por Vetores

Por Jaciene Santos

1. Leishmaniose

A leishmaniose tegumentar americana (Leishmania braziliensis), também denominada de espúndia ou úlcera de Bauru, é encontrada desde o México até a Argentina, geralmente em áreas florestais. No Brasil, tomou o nome de úlcera de Bauru devido à freqüência com que era encontrada nessa região paulista. Normalmente não leva o paciente à morte, mas, devido às graves lesões cutâneas e orofaríngeas, pode dificultar ou impedir a alimentação do paciente, diminuindo a sua capacidade de trabalho e favorecendo o aparecimento de outras doenças, às vezes fatais.

Transmissão – A transmissão conhecida é pela picada de insetos fêmeas do gênero Lutzomyia. Ao exercer o hematofagismo ela inocula as formas promastígota.

Locomoção – As formas promastígota são as que têm movimento ativo, deslocando-se na direção do flagelo (extremidade anterior do parasito); as formas amastígotas são praticamente imóveis.

Patogenia – No local da picada, as formas promastígota invadem as células do SER. Inicialmente nota-se hiperemia, com nódulo ou vesícula central, geralmente pruriginoso. Pode permanecer estável ou aumentar de tamanho, formando uma úlcera pequena dentro de 1 a 2 meses. Nesta situação há uma hiperplasia e hipertrofia do SER local, edema e hipertrofia no epitélio circundante. Pode haver ou não adenopatia satélite, com febre. Essa lesão pode permanecer em estado crônico por meses, curar-se espontaneamente, ou então evoluir de duas maneiras: a úlcera inicial, que contém grande número de parasitos, torna-se necrosada, dando a úlcera leishmaniótica típica, ou então, não se necrosa e o nódulo inicial evolui para lesões verrucosas e papilomatosas (formas vegetativas)

Diagnóstico

1. Clínico – O aspecto das lesões cutâneas, associado à deformação nasal (nariz de anta) ou destruição da região nasofaringeana, além da história do paciente (trabalhador de florestas, etc.), são bastante indicativos de L. braziliensis. Entretanto deve ser feito diagnóstico diferencial com a úlcera tropical e algumas micoses, pela demonstração do agente etiológico.

2. Laboratorial – Pela pesquisa do parasito ou reações imunológicas.

A pesquisa do parasito pode ser feita a borda das úlceras cutâneas, nos linfonodos infartados ou nas lesões das mucosas.

3. As reações imunológicas mais usadas são:

Teste intradérmico ou intradermorreação de Montenegro - é a mais utilizada no diagnóstico da leishmaniose tegumentar. Permanece positiva por longo tempo, mesmo depois de as pessoas estarem curadas.

Imunofluorescência indireta – esse método apresenta alta sensibilidade, mas distingue as duas leishmanioses.

Profilaxia

Combater o vetor e tratar os doentes.

Não dormir dentro de matas ou grutas, pois o hematofagismo do flebotomo é principalmente crepuscular e noturno.

Construir casas ou acampamentos de trabalhadores em derrubada de mata há uma distância mínima de 500m da orla da mesma, pois o Lutzomyia é fraco e voa pouco.

2. Doença de Chagas

A doença de Chagas humana é uma doença intimamente ligada ao status social do homem e constitui, especialmente no Brasil, um dos problemas médicos sociais mais graves. O protozoário causador foi descrito por Carlos Chagas em 1909.

Nessa parasitose deve ser ressaltado o extraordinário feito de Carlos Chagas, uma vez que descobriu o agente etiológico e descreveu-o, e descobriu os transmissores e os reservatórios domésticos e silvestres e ainda parte da patogenia e da sintomatologia.

Transmissão – A maneira usual de transmissão que tem importância epidemiológica é através da penetração do parasito presente nas fezes ou urina de triatomíneos (barbeiros).

Outros mecanismos de transmissão que podem ocorre são:

Transfusão sanguínea;

Transmissão congênita;

Acidentes de laboratório que podem ocorrer entre pesquisadores e técnicos;

Amamentação;

Sexo (o parasito já foi encontrado em esperma de animais);

Caçadores manuseando animais (tatu, gambás) recém abatidos

Patogenia – Há uma interação de fatores levando a respostas, sintomas ou lesões diferentes nos pacientes quer seja na fase aguda, quer na crônica.

Diagnóstico

Clínico – A origem do paciente, a presença do sinal de Romaña (fase aguda), as alterações cardíacas, esofagianas ou cólicas podem levar a um diagnóstico clínico.

Laboratorial – Os métodos de diagnóstico apresentam diferentes resultados, conforme sejam aplicados em pacientes na fase aguda ou crônica. Assim, para cada fase da doença existe um ou mais métodos que funcionam melhor.

Pesquisa do parasito;

Sorológico.

Profilaxia

Está intimamente ligada à melhoria das condições de vida, bem como a modificação do hábito secular de destruição da fauna e da flora.

Melhoria das habitações rurais;

Combate ao barbeiro;

Controle do doador de sangue.

3. Malária

A malária é uma das doenças parasitárias que maior dano já causou a milhões de pessoas nas regiões tropicais e subtropicais do globo. O impacto social, econômico e político dessa doença sobre a humanidade foi severo, durante vários séculos.

É provocado no Brasil por três espécies do gênero Plasmodium: P. vivax causador da terçã benigna; P. falciparum, agente da terçã maligna e P. malariae responsável pela quartã benigna. O P. ovale, que também causa terçã benigna, não existe no Brasil, mas apenas na África.

Transmissão – Ocorre pela inoculação de esporozoíto durante a picada de mosquitos fêmeas do gênero Anopheles. A transmissão congênita, apesar de muito rara, pode ocorrer. Outro mecanismo possível de transmissão é através de transfusão de sangue de doadores na fase crônica, sem sintomatologia aparente.

Patogenia – As três espécies de Plasmodium que ocorrem no Brasil possuem patogenicidade diferente, e apenas o P. falciparum, causador da terçã maligna, é capaz de levar o paciente à morte. Além disso, essa espécie possui cepas resistentes aos medicamentos usuais, de letalidade mais elevada.

As alterações mais frequentes na malária são: o acesso malárico (calafrio, calor e suor), a anemia e o pigmento (depositado em vários órgãos, dando aos mesmos uma cor escura).

Diagnóstico

Clínico – A anamnese, o tipo de acesso, a anemia e a esplenomegalia, bem como a resposta à tentativa terapêutica.

Laboratorial – A necessidade de identificar a espécie do parasito reside no fato de que a terapêutica é especifica e, quanto mais precoce, melhor.

Profilaxia

Pode ser de cunho individual ou coletivo (regional).

Individual – Visa proteger o individuo contra as picadas do inseto, ou pelo uso de quimioprofiláticos, impedir o aparecimento das manifestações clínicas. Uso de repelentes, mosquiteiros e telas nas janelas.

Coletivo - É o método recomendado pela OMS, realizado em duas etapas: Controle e erradicação. O controle visa diminuir a incidência da malária na região, e a erradicação, extingui-la.

4. Filariose

A Wuchereria bancrofti é de larga distribuição geográfica, acentuando-se o Extremo Oriente, Ilhas do pacífico, Índia e África. No Brasil, é encontrada nos seguintes Estados: Amazonas, Pará, Maranhão, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Bahia e Santa Catarina. Os focos são urbanos.

Transmissão – Unicamente pela deposição das larvas infectantes na pele das pessoas. Um mosquito (do gênero Culex e/ou Aedes), ao aproximar sua probóscida do hospedeiro, deixa escapar as larvas filarióides. Parece que o estimulo que provoca a saída das larvas da probóscida do mosquito é o calor emanado do corpo humano. A pele, estando úmida (suor e umidade relativa do ar alta), permite a progressão e penetração das larvas.

Patogenia – As microfilárias não são patogênicas e a presença dos vermes adultos frequentemente passa despercebida.

Quando ocorrem alterações, essas se devem aos vermes adultos. São de decurso longo e podem apresentar desde uma pequena estase linfática até a elefantíase bancroftiana. As lesões surgidas são devidas a dois fatores principais: mecânicos e irritativos.

Ação mecânica. A presença de uma ou várias filarias adultas dentro de um vaso linfático pode provocar a obstrução do mesmo causando os seguintes distúrbios:

Estase linfática ou linfagiectasia (endurecimento dos vasos linfáticos).

Derramamento linfático ou linforragia.

Ação irritativa. A presença dos vermes dentro dos vasos, bem como dos produtos oriundos do seu metabolismo e desintegração após a morte do helminto, provoca fenômenos inflamatórios. Em consequência, teremos a linfagite (inflamação dos vasos) e linfadenite (inflamação dos linfonodos). Frequentemente aparecem fenômenos alérgicos, tais como urticárias e edemas extrafocais.

Devido a esses dois modos de ação (mecânica e irritativa), em alguns casos crônicos (8 a 10 anos de parasitismo) pode surgir a síndrome conhecida como elefantíase. Esta síndrome pode ter outras causas que não a Wuchereria bancrofti (lepra, estafilococcias ou outra causa que perturbe continuadamente o fluxo linfático). A elefantíase caracteriza-se por:

Linfagite

Linfagiectasia

Edema linfático

Esclerose da derme

Hipertrofia da epiderme

Aumento do volume do órgão (principalmente pernas, escroto, vulva ou mamas).

Diagnóstico

Clinico – É muito difícil de ser feito devido à semelhança das alterações provocadas pela W. bancrofti e as de outros agentes etiológicos parecidos. Entretanto, no período pré-patente ou nos quadros de elefantíase avançada, o diagnóstico clínico, associado ao levantamento epidemiológico do caso, é o único recurso.

Laboratorial – Pode-se fazer biópsia de algum linfonodo infartado e encontro do parasito. Entretanto, o método mais utilizado é a pesquisa das microfilárias no sangue periférico.

Profilaxia

É baseada em dois pontos básicos, ou seja, tratamento de todas as pessoas positivas e combate ao inseto vetor.

A primeira medida consegue-se em vista da excelente ação medicamentosa do dietilcarbamazina. Em algumas localidades conseguiu-se reduzir sensivelmente essa parasitose por conta da administração desse medicamento de forma preventiva a toda população da zona endêmica, sem fazer-se previamente esfregaços sanguíneos para indicação dos positivos.

O controle do inseto é difícil, mas, dependendo da região, pode-se tentar exterminar as larvas e os adultos. Há necessidade de grande colaboração da população, pois apesar dos insetos voarem 2 a 3 quilômetros, a maioria dos criadouros são poças de água poluídas peridomiciliares. Contra as larvas pode-se usar óleo queimado, furar latas os pneus velhos cheios d’água ou usar larvicida.


Fonte: NEVES, D.P. Parasitologia Humana. 5 ed. Rio de Janeiro, Atheneu, 1982.

Jaciene Santos é Bióloga

com especialização em Genética.



4ª Conversa Afinada, 09/10/2011