Por Viviane Teixeira
Texto: Josiany Dórea
Participando da Segunda Conversa Afinada realizada no dia 07 de agosto de 2011, Viviane Teixeira nos presenteou com o tema “A poesia alimenta a Alma”. A explanação do tema nos promoveu uma reflexão sobre a construção da poesia e poema. Será que sabemos a diferença entre poesia e poema?
Vejamos uma definição clássica sobre a poesia: “A poesia, ou gênero lírico poeticados, vem do latim poetize que no bom português é poesia ou lírica. É uma das sete artes tradicionais, pela qual a linguagem humana é utilizada com fins estéticos. Poesia, segundo o modo de falar comum, quer dizer duas coisas. A arte, que a ensina, e a obra feita com a arte; a arte é a poesia, a obra poema, o poeta o artífice.". Vale ressaltar que a poesia lírica é uma forma de poesia que surgiu na Grécia Antiga, e originalmente, era feita para ser cantada ou acompanhada de flauta e lira (daí o lírico).
Para a definição clássica do poema temos: uma obra literária apresentada geralmente em verso e estrofes (ainda que possa existir prosa poética assim designada pelo uso de temas específicos e de figuras de estilo próprio da poesia). Assim, verificamos que tanto o poema e a poesia é uma arte e quando nos referimos a arte não podemos deixar de comentar sobre a Filosofia. Vejamos:
Do ponto de vista da Filosofia, segundo Marilena Chauí, podemos apresentar dois momentos de teorização da arte. No primeiro, inaugurado por Platão e Aristóteles, a Filosofia trata as artes sob a forma da poética; no segundo momento, sob a forma estética (século XVIII). A arte poética é o nome de uma obra aristotélica sobre as artes da fala e escrita, do canto e da dança: a poesia da tragédia e comédia. A palavra poesia é a tradução para poiesis, portanto, para fabricação. A arte poética estuda as obras de arte como fabricação de seres e gesto artificiais isto é, produzidos pelos seres humanos.
Apresentar o poema de Fernando Pessoa foi uma forma encontrada por Viviane para demonstrar na voz do poeta o que de fato é poesia. Visto que, FernandoAntônio Nogueira Pessoa foi um dos mais importantes poetas portugueses que nasceu no dia 13 de junho de 1888, em Lisboa, e ali faleceu aos 30 de novembro de 1935. Assim, dizia o poeta português “quem não vê bem uma palavra não pode ver bem uma alma”.
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente.
Que chega a fingir que é dor.
A dor que deveras sente.
Fernando Pessoa (1888-1935)
Vale ressaltar que Viviane enfocou dois tipos importantes de poesia contemporânea: a concreta e a urbana.
A poesia concreta surgiu com o Concretismo, fase literária voltada para a valorização e incorporação dos aspectos geométricos à arte (música, poesia, artes plásticas). Tem como característica primordial o uso das disponibilidades gráficas que as palavras possuem sem preocupações com a estética tradicional de começo, meio e fim e, por este motivo, é chamado de poema-objeto. “Segundo o poeta e crítico literário boliviano, Eugen Gomringer, “o poema concreto é uma realidade em si, não um poema sobre”.
A interpretação do poema Xícara nos proporcionou uma vontade enorme de tomar café e saborear as palavras nele contido. Isso nos remete a analisar o poder da imagem e das palavras.
O poeta e educador paranaense Fábio Sexugi com seus 29 anos realizou um feito inédito para escritores nacionais, sendo o primeiro poeta brasileiro a vencer um concurso de literatura na Itália, no ano de 2009.
Para apresentar a poesia urbana, Viviane não poderia ter escolhido melhor: o poema de Manoel Carneiro de Souza Bandeira Filho, nascido em Recife, em 19 de abril de 1886. É um dos poucos poetas em que a vida e a obra se fundem, pois, acometido de tuberculose, durante toda a sua vida, busca a resolução de suas angústias por intermédio da morte, em suas poesias. Faleceu aos 83 anos, no dia 13 de outubro de 1968. Revelou-se um grande poeta do século XX.
Poema tirado de uma notícia de jornal
João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou ao bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
Viviane nos explicou que a poesia urbana consiste em apresentar os acontecimentos que abrangem o nosso cotidiano, o poeta “sai do seu lugar comum” e expõe os fatos de maneira mais crítica e expressiva. Percebemos no poema que João Gostoso personagem anônimo do barracão sem número, bebe, dança, canta e suicida-se na Lagoa que embeleza a paisagem. Bastante atual esse poema. Quantos anônimos morrem ou se suicidam nas lagoas elitizadas e vira apenas manchete de jornal no dia seguinte?Sem nenhuma comoção ou sensibilidade de uma população que já se acostuma com a violência e o descaso social? É caso para reflexão...
Partindo do princípio de que precisamos prestar homenagem às passagens marcantes em nossa vida, com a poesia não podia ser diferente. Dessa forma, a data especial para comemorarmos o Dia Nacional da Poesia é 14 de março devido à homenagem ao nascimento de Castro Alves. Poeta do romantismo foi um dos maiores nomes da poesia brasileira, cujas características principais são a valorização do amor e a luta por liberdade e justiça.
Finalizando sua apresentação Viviane nos convidou a brincar com a poesia com o poeta José Paulo Paes que nasceu em Jaquaritinga, no Estado de São Paulo, em 1926. Poeta e tradutor começou seu trabalho literário na revista Joaquim. Em 1986 reuniu toda sua obra sob o titulo Um por todos. Trabalhou muitos temas sociais. Faleceu em 08 de outubro de 1998.
Poesia
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio, pião.
Só que bola, papagaio, pião
de tanto brincar
se gastam.
As palavras não:
quanto mais se brinca
com elas
mais novas ficam.
Como a água do rio
que é água sempre nova.
Como cada dia
que é sempre um novo dia.
Vamos brincar de poesia?
Agradecemos a todas as pessoas que participaram do nosso encontro e literalmente falando saborearam com a poesia. Também houve um momento de emoção quando Viviane recitou o poema construído por ela para o seu primo Josemar em comemoração ao seu aniversário. Acompanhe:
O MELHOR
O menino cresceu
Entre jujubas, chicletes e travessuras
Entre quintais, brincadeiras e aventuras.
O menino cresceu
Entre alegrias, tormentos e medoSofreu tudo em segredo
Mas as coisas mudavam constantemente
Pois o que importa era o que ele tinha em mente.
O menino cresceu
Tornou-se exemplo de força e perseverança
Mostrando a todos, que prevaleceu a sua confiança.
O menino cresceu
Com o apoio da sua família
Seguindo com ela a mesma trilha;
A trilha do coração
Pois nesta família não há espaço para o preconceito
Só pro amor e a união.
Essa é a história de vida do meu primo querido
Josemaravilhoso, o meu preferido.
Poetisa: Viviane Teixeira Oliveira
Viviane Teixeira Oliveira é Professora de
Língua e Literatura Portuguesa e
Pós-graduada em Metodologia do Ensino Superior