domingo, 18 de dezembro de 2011

MEIO AMBIENTE X QUALIDADE DE VIDA - PARTE II

APRESENTAÇÃO

Por Josemar Dórea

Crescentemente, lemos na mídia várias manchetes de animais selvagens encontrados nas ruas e casas da zona urbana. Onças, cobras, macacos e até ursos são figuras costumeiras nos quintais das residências. Isto reflete que estamos destruindo o habitat desses animais que vão buscar alimentos e abrigos na cozinha de nossas casas.

O problema são os animais que mal podemos ver como os insetos, que transmitem ao homem várias doenças. Esta abordagem foi o principal assunto do segundo encontro do tema Meio Ambiente x Qualidade de vida. Jaciene Santos falou sobre a relação dessas doenças com a degradação ao Meio Ambiente.

O homem precisa entender que a Natureza é soberana e tudo que fizemos de mal para ela nos retorna e na maioria das vezes de forma irreversível.

Algumas Doenças Transmitidas por Vetores

Por Jaciene Santos

1. Leishmaniose

A leishmaniose tegumentar americana (Leishmania braziliensis), também denominada de espúndia ou úlcera de Bauru, é encontrada desde o México até a Argentina, geralmente em áreas florestais. No Brasil, tomou o nome de úlcera de Bauru devido à freqüência com que era encontrada nessa região paulista. Normalmente não leva o paciente à morte, mas, devido às graves lesões cutâneas e orofaríngeas, pode dificultar ou impedir a alimentação do paciente, diminuindo a sua capacidade de trabalho e favorecendo o aparecimento de outras doenças, às vezes fatais.

Transmissão – A transmissão conhecida é pela picada de insetos fêmeas do gênero Lutzomyia. Ao exercer o hematofagismo ela inocula as formas promastígota.

Locomoção – As formas promastígota são as que têm movimento ativo, deslocando-se na direção do flagelo (extremidade anterior do parasito); as formas amastígotas são praticamente imóveis.

Patogenia – No local da picada, as formas promastígota invadem as células do SER. Inicialmente nota-se hiperemia, com nódulo ou vesícula central, geralmente pruriginoso. Pode permanecer estável ou aumentar de tamanho, formando uma úlcera pequena dentro de 1 a 2 meses. Nesta situação há uma hiperplasia e hipertrofia do SER local, edema e hipertrofia no epitélio circundante. Pode haver ou não adenopatia satélite, com febre. Essa lesão pode permanecer em estado crônico por meses, curar-se espontaneamente, ou então evoluir de duas maneiras: a úlcera inicial, que contém grande número de parasitos, torna-se necrosada, dando a úlcera leishmaniótica típica, ou então, não se necrosa e o nódulo inicial evolui para lesões verrucosas e papilomatosas (formas vegetativas)

Diagnóstico

1. Clínico – O aspecto das lesões cutâneas, associado à deformação nasal (nariz de anta) ou destruição da região nasofaringeana, além da história do paciente (trabalhador de florestas, etc.), são bastante indicativos de L. braziliensis. Entretanto deve ser feito diagnóstico diferencial com a úlcera tropical e algumas micoses, pela demonstração do agente etiológico.

2. Laboratorial – Pela pesquisa do parasito ou reações imunológicas.

A pesquisa do parasito pode ser feita a borda das úlceras cutâneas, nos linfonodos infartados ou nas lesões das mucosas.

3. As reações imunológicas mais usadas são:

Teste intradérmico ou intradermorreação de Montenegro - é a mais utilizada no diagnóstico da leishmaniose tegumentar. Permanece positiva por longo tempo, mesmo depois de as pessoas estarem curadas.

Imunofluorescência indireta – esse método apresenta alta sensibilidade, mas distingue as duas leishmanioses.

Profilaxia

Combater o vetor e tratar os doentes.

Não dormir dentro de matas ou grutas, pois o hematofagismo do flebotomo é principalmente crepuscular e noturno.

Construir casas ou acampamentos de trabalhadores em derrubada de mata há uma distância mínima de 500m da orla da mesma, pois o Lutzomyia é fraco e voa pouco.

2. Doença de Chagas

A doença de Chagas humana é uma doença intimamente ligada ao status social do homem e constitui, especialmente no Brasil, um dos problemas médicos sociais mais graves. O protozoário causador foi descrito por Carlos Chagas em 1909.

Nessa parasitose deve ser ressaltado o extraordinário feito de Carlos Chagas, uma vez que descobriu o agente etiológico e descreveu-o, e descobriu os transmissores e os reservatórios domésticos e silvestres e ainda parte da patogenia e da sintomatologia.

Transmissão – A maneira usual de transmissão que tem importância epidemiológica é através da penetração do parasito presente nas fezes ou urina de triatomíneos (barbeiros).

Outros mecanismos de transmissão que podem ocorre são:

Transfusão sanguínea;

Transmissão congênita;

Acidentes de laboratório que podem ocorrer entre pesquisadores e técnicos;

Amamentação;

Sexo (o parasito já foi encontrado em esperma de animais);

Caçadores manuseando animais (tatu, gambás) recém abatidos

Patogenia – Há uma interação de fatores levando a respostas, sintomas ou lesões diferentes nos pacientes quer seja na fase aguda, quer na crônica.

Diagnóstico

Clínico – A origem do paciente, a presença do sinal de Romaña (fase aguda), as alterações cardíacas, esofagianas ou cólicas podem levar a um diagnóstico clínico.

Laboratorial – Os métodos de diagnóstico apresentam diferentes resultados, conforme sejam aplicados em pacientes na fase aguda ou crônica. Assim, para cada fase da doença existe um ou mais métodos que funcionam melhor.

Pesquisa do parasito;

Sorológico.

Profilaxia

Está intimamente ligada à melhoria das condições de vida, bem como a modificação do hábito secular de destruição da fauna e da flora.

Melhoria das habitações rurais;

Combate ao barbeiro;

Controle do doador de sangue.

3. Malária

A malária é uma das doenças parasitárias que maior dano já causou a milhões de pessoas nas regiões tropicais e subtropicais do globo. O impacto social, econômico e político dessa doença sobre a humanidade foi severo, durante vários séculos.

É provocado no Brasil por três espécies do gênero Plasmodium: P. vivax causador da terçã benigna; P. falciparum, agente da terçã maligna e P. malariae responsável pela quartã benigna. O P. ovale, que também causa terçã benigna, não existe no Brasil, mas apenas na África.

Transmissão – Ocorre pela inoculação de esporozoíto durante a picada de mosquitos fêmeas do gênero Anopheles. A transmissão congênita, apesar de muito rara, pode ocorrer. Outro mecanismo possível de transmissão é através de transfusão de sangue de doadores na fase crônica, sem sintomatologia aparente.

Patogenia – As três espécies de Plasmodium que ocorrem no Brasil possuem patogenicidade diferente, e apenas o P. falciparum, causador da terçã maligna, é capaz de levar o paciente à morte. Além disso, essa espécie possui cepas resistentes aos medicamentos usuais, de letalidade mais elevada.

As alterações mais frequentes na malária são: o acesso malárico (calafrio, calor e suor), a anemia e o pigmento (depositado em vários órgãos, dando aos mesmos uma cor escura).

Diagnóstico

Clínico – A anamnese, o tipo de acesso, a anemia e a esplenomegalia, bem como a resposta à tentativa terapêutica.

Laboratorial – A necessidade de identificar a espécie do parasito reside no fato de que a terapêutica é especifica e, quanto mais precoce, melhor.

Profilaxia

Pode ser de cunho individual ou coletivo (regional).

Individual – Visa proteger o individuo contra as picadas do inseto, ou pelo uso de quimioprofiláticos, impedir o aparecimento das manifestações clínicas. Uso de repelentes, mosquiteiros e telas nas janelas.

Coletivo - É o método recomendado pela OMS, realizado em duas etapas: Controle e erradicação. O controle visa diminuir a incidência da malária na região, e a erradicação, extingui-la.

4. Filariose

A Wuchereria bancrofti é de larga distribuição geográfica, acentuando-se o Extremo Oriente, Ilhas do pacífico, Índia e África. No Brasil, é encontrada nos seguintes Estados: Amazonas, Pará, Maranhão, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Bahia e Santa Catarina. Os focos são urbanos.

Transmissão – Unicamente pela deposição das larvas infectantes na pele das pessoas. Um mosquito (do gênero Culex e/ou Aedes), ao aproximar sua probóscida do hospedeiro, deixa escapar as larvas filarióides. Parece que o estimulo que provoca a saída das larvas da probóscida do mosquito é o calor emanado do corpo humano. A pele, estando úmida (suor e umidade relativa do ar alta), permite a progressão e penetração das larvas.

Patogenia – As microfilárias não são patogênicas e a presença dos vermes adultos frequentemente passa despercebida.

Quando ocorrem alterações, essas se devem aos vermes adultos. São de decurso longo e podem apresentar desde uma pequena estase linfática até a elefantíase bancroftiana. As lesões surgidas são devidas a dois fatores principais: mecânicos e irritativos.

Ação mecânica. A presença de uma ou várias filarias adultas dentro de um vaso linfático pode provocar a obstrução do mesmo causando os seguintes distúrbios:

Estase linfática ou linfagiectasia (endurecimento dos vasos linfáticos).

Derramamento linfático ou linforragia.

Ação irritativa. A presença dos vermes dentro dos vasos, bem como dos produtos oriundos do seu metabolismo e desintegração após a morte do helminto, provoca fenômenos inflamatórios. Em consequência, teremos a linfagite (inflamação dos vasos) e linfadenite (inflamação dos linfonodos). Frequentemente aparecem fenômenos alérgicos, tais como urticárias e edemas extrafocais.

Devido a esses dois modos de ação (mecânica e irritativa), em alguns casos crônicos (8 a 10 anos de parasitismo) pode surgir a síndrome conhecida como elefantíase. Esta síndrome pode ter outras causas que não a Wuchereria bancrofti (lepra, estafilococcias ou outra causa que perturbe continuadamente o fluxo linfático). A elefantíase caracteriza-se por:

Linfagite

Linfagiectasia

Edema linfático

Esclerose da derme

Hipertrofia da epiderme

Aumento do volume do órgão (principalmente pernas, escroto, vulva ou mamas).

Diagnóstico

Clinico – É muito difícil de ser feito devido à semelhança das alterações provocadas pela W. bancrofti e as de outros agentes etiológicos parecidos. Entretanto, no período pré-patente ou nos quadros de elefantíase avançada, o diagnóstico clínico, associado ao levantamento epidemiológico do caso, é o único recurso.

Laboratorial – Pode-se fazer biópsia de algum linfonodo infartado e encontro do parasito. Entretanto, o método mais utilizado é a pesquisa das microfilárias no sangue periférico.

Profilaxia

É baseada em dois pontos básicos, ou seja, tratamento de todas as pessoas positivas e combate ao inseto vetor.

A primeira medida consegue-se em vista da excelente ação medicamentosa do dietilcarbamazina. Em algumas localidades conseguiu-se reduzir sensivelmente essa parasitose por conta da administração desse medicamento de forma preventiva a toda população da zona endêmica, sem fazer-se previamente esfregaços sanguíneos para indicação dos positivos.

O controle do inseto é difícil, mas, dependendo da região, pode-se tentar exterminar as larvas e os adultos. Há necessidade de grande colaboração da população, pois apesar dos insetos voarem 2 a 3 quilômetros, a maioria dos criadouros são poças de água poluídas peridomiciliares. Contra as larvas pode-se usar óleo queimado, furar latas os pneus velhos cheios d’água ou usar larvicida.


Fonte: NEVES, D.P. Parasitologia Humana. 5 ed. Rio de Janeiro, Atheneu, 1982.

Jaciene Santos é Bióloga

com especialização em Genética.



4ª Conversa Afinada, 09/10/2011



2 comentários:

  1. Carla Cristina da Silva20 de dezembro de 2011 às 13:52

    O que tá faltando é consciência e educação ambiental em nosso país. Lamentável!

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  2. Concordo com você Carla Cristina!
    "As maravilhas nunca faltam ao mundo:
    o que falta é a capacidade de senti-las,
    admirá-las e preservá-las".

    Vamos pensar mais em preservar o nosso planeta.

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