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Uma boa pergunta para começarmos nossa Nona Conversa Afinada. O samba pelo que constamos, está muito bem. Mas, e sua história? E afinal de contas, o samba nasceu na Bahia ou no Rio de Janeiro? Eis a questão...
Nossa conversa afinada aconteceu no dia 31 de março e Alberto Ferreira foi o condutor do nosso tema. Começamos com uma breve análise da importância do samba para a História do nosso país.
Percebemos que o samba nasceu de uma cultura criada pelos escravos africanos. Visto que, a etimologia da palavra "semba" (umbigada) é de origem africana mais precisamente de Angola e Congo de onde vieram a maior parte dos escravos para o Brasil. E tem seu significado ligado as danças típicas tribais do continente. Seu ritmo proporcionou para o Brasil mais beleza e alegria.
Identificamos-nos com o samba e ele vive em nossas veias como uma corrente de amor e poesia para a vida, seja no sentido de protestos, desabafos, romances ou apenas para alegrar mais um povo que já tem tantas aflições.
Em 1917, Donga registra o samba conhecido como “Pelo Telefone”, que marca o começo da profissionalização na música popular e o nascimento oficial do samba.
Na década de 1930, o samba é bastante tocado nas emissoras de rádio. Os grandes sambistas e compositores desta época são: Noel Rosa autor de Conversa de Botequim; Cartola de As Rosas Não Fala; Dorival Caymmi de O Que É Que a Baiana Tem? Ary Barroso, de Aquarela do Brasil; e Adoniran Barbosa, de Trem das Onze.
Vimos isso, a partir de um período muito difícil da nossa História em que vigorava a República Velha, caracterizada por uma forte centralização do poder entre os partidos políticos e a conhecida aliança política “café com leite”. A transição do governo de Washington Luis para Getúlio Vargas.
Descobrimos que o samba unido com a nossa História fornece uma receita de como vivia o povo brasileiro, na época em que o samba cresceu e tornou-se maior de idade, junto com os períodos difíceis da Ditadura Militar.
Daí em diante, o samba promove um marco referencial nos lares brasileiros. E explode como um foguete, principalmente, nos Estados da Bahia e Rio de Janeiro, depois se estende para São Paulo.
O samba baiano é influenciado pelo lundu e maxixe e tem como uma das suas principais características seu ritmo repetitivo e letras simples com um estilo bem popular e animado. O samba carioca brilha com suas letras que retratam sobre a vida urbana, o samba de enredo das escolas de samba, às vezes contada com humor e muita emoção sobre a vida dos trabalhadores e o cotidiano dos morros e favelas. Destaque para os problemas sociais. O samba paulista vai ter influência ao requinte da Itália. As letras são mais elaborada e ganha uma conotação de mistura de raças.
O samba passa então, a se desenvolver e multiplicar surgindo vários tipos, entre eles alguns que destacamos abaixo.
Samba Canção: Surge na década de 1920, com ritmos lentos e letras sentimentais e românticas. Exemplo: Ai, Ioiô (1929), de Luís Peixoto.
Samba-enredo: Surge no Rio de Janeiro durante a década de 1930. Geralmente segue temas sociais ou culturais. Define toda a coreografia e cenografia utilizada no desfile das escolas de samba.
Samba de gafieira: Foi criado na década de 1940 e tem acompanhamento de orquestra. Rápido e muito forte na parte instrumental, é muito usado nas danças de salão.
Pagode: nasceu na cidade do Rio de Janeiro, nos anos 70 (década de 1970), e ganhou as rádios e pistas de dança na década seguinte. Tem um ritmo repetitivo e utiliza instrumentos de percussão e sons eletrônicos.
Partido-Alto: com letras improvisadas, falam sobre a realidade dos morros e seus problemas sociais. É o estilo dos grandes mestres do samba. Os compositores de Partido Alto mais conhecido são: José Bezerra da Silva, Moreira da Silva, Martinho da Vila e Zeca Pagodinho, entre outros.
O ritmo, a melodia, o gingado, tudo isso atrelado ao jeito de dançar, ao comportamento das pessoas vai definir o estilo peculiar de cada sambista em seu Estado. O samba é universal, porém, tem suas particularidades de acordo a cada cultura.
E aquela questão sobre aonde nasceu o samba, acredito que menos importa, o mais importante é saber que o samba está cada vez mais popular e vivo nos lares brasileiros. Se perguntarmos ao nosso sambista baiano Riachão, ele nos dirá que o samba nasceu na Bahia, porque a História do Brasil começou aqui. Riachão é um sambista que merece todo o respeito. De uma família humilde vinda do Recôncavo Baiano, Riachão soltava a voz e encantava o povo baiano, principalmente em Salvador onde passou a morar com seus quinze irmãos. Atualmente é reverenciado pelos sambistas de todo o Brasil e reconhecido pelo seu jeito alegre e espontâneo de misturar o samba com a nossa cultura.
Alberto Ferreira ressaltou que dois de dezembro é o dia do samba. Foi escolhida essa data para prestar uma homenagem ao dia de nascimento do primeiro Compositor brasileiro a ser ouvido e respeitado nos EUA, com a música, Aquarela do Brasil, Ary Barroso, faleceu em fevereiro de 1964. Até hoje merecidamente sua música é tocada e respeitada por todos os compositores sambistas.
Agradecemos todos os presentes em mais uma conversa afinada em que tivemos a oportunidade de conhecermos mais a história do samba. Como temos atitude podemos dizer que sambamos e colecionamos mais conhecimentos com esse tema: o samba.
Referências:
Almanaque Abril 2007, edição33- São Paulo.
No dia 29 de março, Salvador completa 463 anos. E para comemorarmos segue abaixo esse belíssimo texto do escritor Lima Trindade.
Da Calçada a Paripe vagam meus olhos, ora doces e alegres, ora amargos e entristecidos. Vão emoldurados por vidraças sujas de ônibus ou, enquanto caminho, pelas linhas ferruginosas de meus velhos óculos. Passo quase imperceptível. O sol hoje é de todos e me embala. Deixo para trás os velhos conceitos. Não, aqui o limite não é claro. Pobre e rico se confundem. Velho e novo também. Os dormentes da estrada de ferro não levam ao fim do arco-íris. Mas há ouro negro jorrando de corações enternecidos. Ednalva recebe bolsa-família e já tem condições de bancar o aparelho de celular e a tevê LCD. Em prestações se leva a vida? Quantas canções será preciso dançar até que o último convidado seque seu copo? Dona Judite se orgulha toda vez que recebe a carta do banco felicitando-a por conta do seu aniversário. Parece pouco a ti, leitor? Eu sigo sem novelo, maravilhando-me pelos sinuosos becos e estreitas possibilidades. Quantas cores temperam a paleta desse mar? As casas, feito bandeirolas, feito jogos de armar, castelos monumentais de areia. Não, não penses que sou ingênuo, que romantizo a indigência alheia. Eu simplesmente não me permito fechar os olhos durante o passeio. As feiras de frutas e verduras não seguem planos nem metas. Estou ébrio pela profusão dos aromas, pela singularidade desses outros olhos que me furtam de mim e me fazem descansar na linha sinuosa de determinadas costas ou lábios. O comércio informal é um rito de passagem, um pretexto para boas e más amizades. Nele, proliferam indispensáveis inutilidades: pés de sapatos perdidos, relógios sem corda, capas de antigos LPs, ervas para dores, chamados e mandingas, retratos de família, fotonovelas, correntes de bicicletas, cadeados sem chaves, um quadro de Raul Seixas e diversas outras coisas mais. Ao seu redor, a oficialidade do mundo organizado das instituições bancárias, lan houses, funerárias, clínicas odontológicas, bares sempre cheios, hotéis de entra e sai, escolas e tudo o que re
ge a cidade em qualquer outro lugar, seja ele Plafaforma, Periperi ou Lobato. Ademais, não te esqueças, o Centro é logo ali. O limite, repito, não é tão claro. Bacalhau tem compleição física de atleta. Ele vê o pôr do sol em Itapagipe. Os fones de ouvido tocam Crioulo. A beleza da natureza o faz chorar. Eu o abraço como se abraça um bom amigo. Não lhe faltam razões para chorar. Mas ele, como muitos de seus irmãos, escolheu erguer os olhos para a beleza.
Lima Trindade é escritor, autor de Supermercado da solidão, Todo sol mais o espírito santo e Corações, blues e serpentinas
Texto Extraído do Jornal A Tarde – Revista Muito em 25/03/2012
www.revistamuito.atarde.uol.com.br