Formar cidadãos consumidores
com consciência crítica e princípios éticos.
Será possível?
Josiany Dórea
Como podemos conscientizar os jovens sobre o consumismo exacerbado?
Qual o papel da Escola? A escola pode ajudar? E qual o caminho para um
consumismo saudável, sem exageros? São questões que estimulam nossa reflexão.
Acreditamos que a escola é o instrumento mais adaptável
para a conscientização dos jovens consumidores em formação.
Vejamos um texto da professora mineira, Terezinha Rios que
nos remete a refletir sobre a difícil arte de consumir com consciência crítica,
em nossa contemporaneidade.
Consumir é viver?
A escola precisa formar cidadãos conscientes que sejam
capazes de construir uma sociedade crítica.
Construir a vida boa - essa é a finalidade de uma ação que
se fundamenta nos princípios éticos. Na perspectiva da moral, temos muitos
critérios e referências para qualificar como boa a vida das pessoas. Há os que
julgam que ela é fruto do poder que se exerce sobre os outros. Há também quem a
associe à posse de bens e à satisfação de desejos, quaisquer que sejam eles -
situações que, na sociedade contemporânea, estão estreitamente ligadas ao
consumo. A posse de coisas, de dinheiro e até de pessoas tem sido algo bastante
estimulado, revelando valores nem sempre fundamentados em princípios sólidos.
Os indivíduos se mobilizam para adquirir aquilo que lhes dê prestígio, o
destaque dos demais e os faça ocupar lugares privilegiados no cenário social.
Poder comprar é importante, mas poder comprar o que não está alcance de outros
é apresentado como garantia de felicidade. A vida boa, feliz, tem sido
frequentemente identificada como aquela em que se pode consumir. A imagem do
cidadão confunde-se, então, com a do consumidor.
É importante pensar no papel que a instituição de ensino
desempenha nesse contexto e na responsabilidade dos gestores em relação ao que
se vivencia no cotidiano educacional. É preciso indagar, criticamente, se a
escola - que se propõe a formar cidadãos - não tem contribuído para o
desenvolvimento do espírito consumista, assim como que riscos ela corre ao se
deixar levar pelos apelos feitos pela mídia, pelos veículos de publicidade e
até mesmo pelas famílias.
No livro A Ética É Possível num Mundo de Consumidores? cuja leitura recomendo, o pensador
polonês Zygmunt Bauman nos alerta em relação a cenários preocupantes no que diz
respeito a essa questão. Ele faz referência à Educação como algo que pode
contribuir para uma resposta afirmativa à pergunta-título da obra. O processo
de ensino e de aprendizado é um movimento de construção da humanidade, de
criação e recriação de cultura. Esta, fruto do trabalho, tem como objetivo
satisfazer as necessidades humanas. Contudo, ao elaborar os produtos culturais,
os indivíduos não atendem apenas às necessidades básicas, mas inventam novos
itens indispensáveis. Isso faz parte do que nos constitui como pessoas, porém,
a maneira como as necessidades são exploradas em cada contexto social pode ser
problemática. É a esse assunto que nos referimos quando falamos em um mundo de
consumidores. Em vez do alimento, há um apelo para que busquemos determinados
produtos e marcas. Mais que lazer, procuramos aquilo que nos é apresentado como
o que faz sucesso.
"Consumir é viver, conviver é sumir", canta
Paulinho da Viola em um de seus sambas, no qual traz uma crítica aguda à vida
transformada em supermercado, em shopping center. A escola tem de ter claro que
conviver é a palavra de ordem não para sumir, mas para aparecer, no espaço político,
como participante da construção da sociedade. Daí ser indispensável um projeto
de conscientização e de diálogo frequente em relação aos valores que sustentam
o trabalho. Se a resposta que dermos a Bauman for negativa, teremos perdido a
esperança, que não se compra - é algo que se sente e se partilha. A escola
necessita recorrer à ética e criar espaço para que possamos
"esperançar".
Terezinha Rios é graduada em Filosofia e doutora em Educação.
Gostei muito do texto da professora Terezinha Rios. Sentir uma necessidade de pensar mais sobre o tema com o olhar consciente de novas possibilidades dentro da instituição escolar. Vivemos a era do "ter e não do ser" porém, precisamos plantar sementes(com todas as barreiras impostas pelo sistema capitalista) e fazer renascer as esperanças de um futuro consciente com ações refletidas na essência do ser. Acreditar na mudança gradativa da humanidade através de uma caminhada longa e cheia de obstáculos.
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