segunda-feira, 4 de abril de 2016

ENTENDA COMO A VITAMINA E
PODE TE AJUDAR A COMBATER OS SINTOMAS DA TPM
A reportagem nos traz informações importantes sobre a Vitamina E e sua contribuição para combater alguns sintomas da TPM.
É benéfico buscar alternativas para evitar uso excessivos de medicamentos ou ficar sofrendo com alguns dos sintomas provocados pela TPM.
Compartilho com vocês...
Josiany Dórea
Toda mulher passa pelo período da tensão pré-menstrual (TPM), no qual os hormônios alteram funções básicas do corpo, causando diversas instabilidades. 

“É comum nessa época sintomas como irritabilidade, ansiedade, alteração no apetite, dor de cabeça, acne. Além disso, podem ocorrer outros tipos de manifestações de caráter tanto emocional quanto físico”, afirma o nutricionista Henrique dos Santos Lima. Existem, no entanto, alternativas para combater alguns desses sintomas.

Vitamina E é uma ótima aliada para combater os sintomas da TPM
De acordo com o nutricionista, o consumo da vitamina E pode ser uma alternativa simples para combater alguns dos sintomas da TPM. “Principalmente porque uma das maiores queixas nessa época é a dor”, explica o médico. “E a dor é resultante, normalmente, de processos inflamatórios que estão ocorrendo no organismo. Como a vitamina E possui ação anti-inflamatória, ela vai ajudar a atenuar esses efeitos adversos presentes durante a TPM”.
 Saiba onde encontrar a Vitamina E na alimentação
 Além de comprimidos com o nutriente, também é possível obter vitamina E na alimentação. “Alimentos como abacate, açaí, oleaginosas, gema do ovo e azeite de oliva, por exemplo, são ótimas fontes”, garante, comentando qual a quantidade de ingestão diária recomendada. “Pode variar de acordo com a fase de vida, mas, para mulheres adultas, a ingestão recomendada é de 15 mg por dia de vitamina E”, explica.
 A vitamina E é contraindicada em algum caso?
De acordo com Henrique, é importante ter um cuidado maior em pacientes com baixos níveis de colesterol sérico, ou seja, na corrente sanguínea, pois a vitamina E tem efeito hipocolesterolêmico. “Por isso, é importante estar sob a orientação de um nutricionista”, conclui.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Insight Filosófico: A Escola e a Família comoalicerce para reduzir a V...

Insight Filosófico: A Escola e a Família como  alicerce para reduzir a V...: A Escola e a Família como alicerce para reduzir a Violência Josiany Dórea O tema é muito complexo e não traz soluções imediatas e mág...
A Escola e a Família como alicerce para reduzir a Violência

Josiany Dórea
O tema é muito complexo e não traz soluções imediatas e mágicas. A Escola é uma instituição que poderá contribuir muito para a formação da cidadania. Um espaço que amplia novos caminhos, possibilidades e desafios. Por sua vez, a família é uma instituição base na formação do ser. E imaginemos no poder que possuímos com as duas instituições unidas com um propósito primordial e desafiante: construir seres humanos cada vez mais comprometidos com a ética e cidadania.
            


Vejamos uma entrevista muito interessante da revista Páginas Abertas, da editora Paulus, com a Dra. Edith Rubinstein. Ela é formada em pedagogia, psicopedagogia e mestre em Psicologia da Educação. Também é especialista em Mediação Educacional formadora de PEI pelo ICELP de Jerusalém, terapeuta família, coordenadora e docente do Centro de Estudos Seminários de Psicopedagogia e ex-presidente e membro do conselho nato da Associação Brasileira de Psicopedagogia.






Revista Páginas Abertas: Pela sua experiência, é possível dizer onde nasce a violência? Em casa, na família, na escola?
Dra. Edith Rubinstein: Entendo a violência humana como efeito de uma construção complexa. O ser humano não é por natureza violento, ele se constitui na relação com o outro, portanto é possível pensar numa construção social. A constituição do ser humano é complexa e os diferentes contextos por onde se dá a convivência contribuem ou não para um equilíbrio emocional saudável.

PA: Em sua visão quais são impactos que a violência pode causar no ambiente escolar?

ER: Infelizmente a violência pode estar presente no ambiente escolar, mas ser proveniente não somente do contexto escolar. Crianças vítimas de violência em outros contextos aprendem formas violentas de responder às diferentes situações, diferentes contextos. Dificuldade para aceitação de normas e regras, dificuldades para suportar a frustração diante do não aprender poderão produzir respostas entendidas como agressivas ou violentas. Portanto, nem sempre respostas violentas são efeito de experiências violentas; a violência poderá aparecer como um sintoma de outras vivências de sofrimento. Embora a escola tenha como função a formação acadêmica, sabemos que essa função não é suficiente para promover uma formação global do cidadão.

PA: Como a família e a escola podem lidar com a violência? Existem modelos de prevenção?
ER: A instituição escolar deve estar preparada para acionar dentro de seu contexto ou de sua rede o apoio profissional necessário para lidar com a violência e seus efeitos. Também a equipe multidisciplinar escolar deverá, em conjunto, construir possíveis caminhos para a dissolução das questões que atingem o contexto como um todo. Entendo que a dissolução do problema dependerá não somente do especialista, mas do envolvimento de uma rede e de uma equipe que, em conjunto, irão construir possíveis propostas que demandarão análise crítica e formulações para gerar respostas satisfatórias. Não há soluções antecipadas e certeiras. Casa situação demanda uma construção específica.

PA: Como família e escola podem contribuir para um sistema de educação saudável?
ER: Um sistema de educação formal saudável inclui o diálogo, a colaboração e a cooperação de todos os envolvidos na instituição. Constrói-se um contexto democrático quando as regras e o sistema relacional são conhecidos, construídos e aceitos pelo grupo.

PA: E a família?
ER: Na educação não formal familiar é importante que os adultos estejam mais seguros na condução da educação pelo diálogo. A contenção e colocação de regras na medida certa são fundamentais para lidar com as tensões pertencentes à cada etapa do desenvolvimento da criança e do jovem. Ninguém nasce preparado para ser pai e mãe, nem para ser filho. É no convívio social que se constroem esses lugares. Não há manuais que atendam a cada singularidade humana.

PA: Como funciona o atendimento psicológico de um professor que sofreu algum caso de violência?
ER: Toda pessoa vítima de violência demanda cuidados especiais de profissionais da área da psicologia, bem como o apoio e acolhimento da instituição como um todo.

PA: Entre alunos é comum que haja períodos de vida de maior revolta e violência? Como o professor, escola e família podem ajudar?
ER: Nem sempre a violência está relacionada com uma etapa da vida; ela pode, fundamentalmente, estar ligada a experiências violentas. Situações de abandono precoce dos adultos e internações em abrigos não promovem um desenvolvimento saudável. Há histórias de abandono de crianças que são adotadas ainda muito jovens (antes dos três anos) e devolvidas para instituição por adultos que não conseguiram dar continuidade ao projeto de adoção. Essa experiência dolorosa pode gerar violência.

PA: Quando é indicado um acompanhamento psicológico para alunos ou professores?
ER: O acompanhamento psicológico para qualquer pessoa é indicado para o alívio e a reabilitação emocional por diferentes causas que venham a proporcionar sofrimento.

PA: Qual seria o modelo escolar considerado ideal para a aprendizagem?
ER: Não acredito que haja um modelo único e ideal de escolarização. Dependerá também da escolha de cada comunidade, de seu projeto político pedagógico. Mas, de modo geral, no contexto da escola são considerados saudáveis os modelos que envolvem: promoção da autonomia de todos os envolvidos na instituição; a colaboração entre pares; ambiente que favoreça o diálogo e, com certeza, uma proposta que ofereça aprendizagem significativa, criativa e que se preocupe com a construção de pessoas críticas, respeitadoras das diferenças e ativas.

PA: Qual o papel da família e da escola nesse modelo?
ER: No contexto familiar, é importante que os valores éticos e regras de convivência sejam compartilhados como significativos para o bem-estar do grupo e de cada membro. Tenho ouvido com frequência a pergunta: “Meu filho manda em mim; e agora, o que faço? ”. Esses questionamentos expressam a falta de discriminação entre os adultos que artificialmente excluem a assimetria. Será que a criança pode tomar decisões sobre a sua condução? Ela tem experiência de vida para isso?

PA: Como o professor, a família e a escola podem ajudar a cria uma sociedade menos violenta?
 ER: A violência, tal como a guerra, ocorre quando a diplomacia e a educação falham. Adultos mais preparados emocionalmente poderão lidar com mais habilidade com os inevitáveis e inesperados desafios pertinentes a qualquer agrupamento humano. Uma sociedade menos violenta requer a construção de um contexto em que o diálogo e o respeito mútuo estejam presentes na ação de todos os envolvidos. Códigos escritos por si só não garantem a inexistência da violência.

domingo, 3 de janeiro de 2016

OLHAR, VER E PENSAR
Josiany Dórea


O artigo abaixo nos remete a uma reflexão filosófica sobre o ver e o olhar aprendendo a pensar sobre a diferença entre ambos. A filósofa Márcia Tiburi nos proporciona um novo olhar acerca do ver ... A importância de buscarmos o olhar crítico, reflexivo para as artes, e acredito, para nossa vida cotidiana, nos dará uma nova proporção para o pensar.


Vamos olhar vendo e pensando nas variadas possibilidades...







APRENDER A PENSAR É DESCOBRIR O OLHAR

Márcia Tiburi




A diferença entre ver e olhar é tanto uma distinção semântica que se torna importante em nossos sofisticados jogos de linguagem tomados da tarefa de compreender a condição humana – e, nela, especialmente as artes –, quanto um lugar comum de nossa experiência. Basta pensar um pouco e a diferença das palavras, uma diferença de significantes, pode revelar uma diferença em nossos gestos, ações e comportamentos. Nossa cultura visual é vasta e rica, entretanto, estamos submetidos a um mundo de imagens que muitas vezes não entendemos e, por isso, podemos dizer que vemos e não vemos, olhamos e não olhamos. O tema ver-olhar – antigo como a filosofia e a arte – torna- se cada vez mais fundamental no mundo das artes e estas o território por excelência de seu exercício. Mas se as artes nos ensinam a ver – olhar, é porque nos possibilitam camuflagens e ocultamentos. Só podemos ver quando aprendemos que algo não está à mostra e podemos sabê-lo. Portanto, para ver olhar, é preciso pensar.
Ver está implicado ao sentido físico da visão. Costumamos, todavia, usar a expressão olhar para afirmar uma outra complexidade do ver. Quando chamo alguém para olhar algo espero dele uma atenção estética, demorada e contemplativa, enquanto ao esperar que alguém veja algo, a expectativa se dirige à visualização, ainda que curiosa, sem que se espere dele o aspecto contemplativo. Ver é reto, olhar é sinuoso. Ver é sintético, olhar é analítico. Ver é imediato, olhar é mediado. A imediaticidade do ver torna-o um evento objetivo. Vê-se um fantasma, mas não se olha um fantasma. Vemos televisão, enquanto olhamos uma paisagem, uma pintura.

A lentidão é do olhar, a rapidez é própria ao ver. O olhar é feito de mediações próprias à temporalidade. Ele sempre se dá no tempo, mesmo que nos remeta a um além do tempo. Ver, todavia, não nos dá a medida de nenhuma temporalidade, tal o modo instantâneo com que o realizamos. Ver não nos faz pensar, ver nos choca ou nem sequer nos atinge. As mediações do olhar, por sua vez, colocam-no no registro do corpo: no olhar – ao olhar - vejo algo, mas já vitimado por tudo o que atrapalha minha atenção retirando-a da espécie sintética do ver e registrando- a num gesto analítico que me faz passear por entre estilhaços e fragmentos a compor – em algum momento – um todo. O olhar mostra que não é fácil ver e que é preciso ver, ainda que pareça impossível, pois no olhar o objeto visto aparece em seus estilhaços de ser e só com muito custo é que se recupera para ele a síntese que nos possibilita reconstruir o objeto. É como se depois de ver fosse necessário olhar, para então, novamente ver. Há, assim, uma dinâmica, um movimento - podemos dizer - um ritmo em um processo de olhar-ver. Ver e olhar se complementam, são dois movimentos do mesmo gesto que envolve sensibilidade e atenção.

O olhar diz-nos que não temos o objeto e, todavia, nos dispõe no esforço de reconstituí-lo. O olhar nos faz perder o objeto que visto parecia capturado. Para que reconstituí-lo? Para realmente capturá-lo. Mas essa captura que se dá no olhar é dialética: perder e reencontrar são os momentos tensos no jogo da visão. Há, entretanto, ainda outro motivo para buscar reconstruir o objeto do olhar: para não perder além do objeto, eu mesmo, que nasço, como sujeito, do objeto que contemplo – construo enquanto contemplo. Olhar é também uma questão de sobrevivência. Ver, por sua vez, nos liberta de saber e pode nos libertar de ser. Se o olhar precisa do pensamento e ver abdica dele, podemos dizer que o sujeito que olha existe, enquanto que o sujeito que vê, não necessariamente existe. Penso, logo existo: olho, logo existo. Eis uma formulação para nosso problema.
Mas se não existo pelo ver, não estou implicado por ele nem à vida, nem à morte. Ver nos distancia da morte, olhar nos relaciona a ela. O saber que advém do olhar é sempre uma informação sobre a morte. A morte é a imagem. A imagem é, antes, a morte. Ver não me diz nada sobre a morte, é apenas um primeiro momento. Ver é um nascimento, é primeiro. O olhar é a ruminação do ver: sua experiência alongada no tempo e no espaço e que, por isso, nos instaura em outra consistência de ser. Por isso, nossa cultura hiper visual dirige-se ao avanço das tecnologias do ver, mas não do olhar. É natural que venhamos a desenvolver uma relação de mercadoria com os objetos visualizáveis e visíveis. O olhar implica, de sua parte, o invisível do objeto: a coisa. Ele nos lança na experiência metafísica. Desarvoramos a perspectiva, perturba-nos. Por isso o evitamos. Todavia, ainda que a mediação implicada no olhar faça dele um acontecimento esparso, pois o olhar exige que se passeie na imagem e esse passear na imagem traça a correspondência ao que não é visto, é o olhar que nos devolve ao objeto – mas não nos devolve o objeto - não sem antes dar-nos sua presença angustiada.

O olhar está, em se tratando do uso filosófico do conceito, ligado à contemplação, termo que usamos para traduzir a expressão Theorein, o ato do pensamento de teor contemplativo, ou seja, o pensar que se dá no gesto primeiro da atenção às coisas até a visão das ideias tal como se vê na filosofia platônica.

Paul Valéry disse que uma obra de arte deveria nos ensinar que não vimos aquilo que vemos. Que ver é não ver. Dirá Lacan: ver é perder. Perder algo do objeto, algo do que contemplamos, por que jamais podemos contemplar o todo. O que se mostra só se mostra por que não o vemos. Neste processo está implicado o que podemos chamar o silêncio da visão: abrimo-nos à experiência do olhar no momento em que o objeto nos impede de ver. Uma obra de arte não nos deixa ver. Ela nos faz pensar. Então, olhamos para ela e vemos.



Artigo originalmente publicado pelo Jornal do Margs, edição 10 (setembro/outubro)/ www.arteescola.org.br.                       

sábado, 5 de dezembro de 2015


Racismo, discriminação e drogas...

Josiany Dórea
Em tempos de muitos comentários e polêmicas sobre racismo, preconceitos e discriminação racial, acredito que seja interessante ouvir outras vozes. Assim, podemos analisar e/ou discutir os problemas sociais brasileiros com um novo olhar. Será que Carl Hart está com a razão? Vejamos...

"Brasil vive apartheid e culpam as drogas", diz Carl Hart

Ascom - Secretaria da Justiça do Estado / Divulgação
Primeiro neurocientista negro a se tornar professor titular da universidade de Columbia, em Nova York (EUA), autor do livro Um Preço Muito Alto: Jornada de um neurocientista que desafia nossa visão sobre as drogas, o pesquisador norte-americano Carl Hart. 

Na segunda passagem pela capital baiana, Hart fala sobre o trabalho que vem desenvolvendo em relação à política mundial antidrogas (na visão dele "uma política enganadora").

1- Quais são suas principais ideias sobre a política de drogas no mundo?
(Carl) É uma pergunta ampla. Escrevi um livro inteiro sobre isso. As políticas de drogas são diferentes a depender de onde se está. No Brasil, o principal problema é que as pessoas estão sendo induzidas ao erro, enganadas, em relação às drogas na sociedade. Dizem à população que as drogas são um problema em si, quando as questões estão ligadas à própria estrutura social, discriminação racial, pobreza, falta de educação, falta de inclusão em certos grupos. O que há, essencialmente, é um apartheid. E culpam as drogas, por meio de campanhas contra o crack, como se o crack fosse o problema. O crack apareceu no Brasil por volta de 2005, a pobreza está desde sempre, assim como a violência e o crime. Atribuir essas questões à existência das drogas e dos traficantes é desonesto. Sugiro às pessoas, principalmente aquelas que estão sendo colocadas nas cadeias ou mortas pela polícia, que se levantem e digam: "Essa política antidrogas é besteira!".

2- A respeito da defesa do sr. da legalização ou descriminalização das drogas nos EUA, o mesmo pode ser aplicado no Brasil?
(Carl) Claro. Seja legalização ou descriminalização, o que quer que funcione na sociedade seria bom. Devemos perguntar quais questões queremos resolver: Se estamos preocupados com traficantes, teremos que pensar sobre a legalização, pois tem a ver com o comércio. Por outro lado, traficantes não terão êxito se houver inclusão social. Até descobrimos como sermos mais inclusivos, sempre teremos problemas com o tráfico. Onde houver drogas e pessoas terá tráfico. Mas, enquanto pessoas não forem incluídas, haverá economia clandestina.
3- O sr. crê que o uso de drogas passa por um problema de saúde em vez de polícia?
(Carl)  Depende muito. Para a maioria das pessoas que usa drogas não se trata de um problema de saúde, embora possa se tornar. Pense, por exemplo, no uso do automóvel. Muita gente dirige de forma imprudente e acaba tendo problemas, se envolve em acidentes, o que acaba se tornando um problema de saúde. Mas a maioria da população usa o automóvel de maneira segura e tal uso não se configura um problema de saúde pública.
4- Esse talvez seria um dos motivos pelos quais as pessoas enveredam pelo tráfico?
(Carl)  As pessoas sempre perseguem as necessidades básicas, não importa em qual sistema vivam. Elas precisam comer, morar, precisam do mínimo de respeito. Quando não se tem isso, elas vão buscar em outro lugar. De repente, vem alguém que oferece um 'trabalho' no tráfico ou qualquer outra atividade, e essa pessoa simplesmente pega.
5- Temos um dilema na Bahia: a maioria dos policiais é negra e educada para combater uma população predominantemente negra. Qual a percepção do sr. sobre essa realidade?
(Carl) Essa pergunta tem uns componentes notáveis. A primeira coisa é que toda pessoa, de qualquer raça, tende a ser morta por um semelhante dela. Por todo o mundo, não é incomum. Quando falamos de negros, achamos que seria incomum, mas não é. Segundo, quando pensamos na polícia, é uma organização que simplesmente faz o que a estrutura de poder quer que ela faça. E a estrutura de poder, nesse caso, é branca. Não é como se a polícia daqui se comportasse de forma anormal. Eles sabem a quem obedecem. É simples. Por isso que estou tentando enfatizar que é um problema não haver lideranças negras aqui. Por que, se houvesse, realmente poderia se traçar um panorama sobre quais são os problemas da violência, de fato. Não é uma garantia de que teríamos um entendimento por completo, até por que nos Estados Unidos temos lideranças negras em inúmeros locais, mas eles são igualmente ignorantes. Eles não entendem o que está acontecendo, enquanto outros são conscientes. Dessa maneira, o fato de haver lideranças negras não é garantia de que tenham uma leitura do contexto. Mas, certamente, essa presença aumenta as possibilidades de compreensão desse quadro.
6-Para sustentar a proibição, políticos no Brasil defendem que o sistema público de saúde não suportaria uma possível legalização...
(Carl)  Provavelmente, é algo estúpido e errado. Eu realmente não ouço políticos, não são pessoas que devem ser ouvidas nesse assunto, mas pessoas que têm publicações nessa área, que têm evidências, informação. Políticos, geralmente, são idiotas e, nem penso neles.
7-Salvador é a cidade com a maior população negra fora da África. Ainda assim, nunca tivemos um prefeito negro. Como o sr. vê isso?
(Carl)  É algo vergonhoso. Percebo que há muito poucos negros em posições de liderança. Por conta disso, penso que os negros daqui deveriam protestar. Deveriam ser educados para dizer: 'Isso é inaceitável!" Até que as pessoas tenham consciência disso tudo vai continuar na mesma. Enquanto houver essa falta de inclusão, toda a conta vai ser creditada às drogas. Há um apartheid silencioso acontecendo aqui.
8- O sr. acredita que o Brasil, assim como ocorreu com Obama nos Estados Unidos, um dia terá um presidente negro?
(Carl) Eu não sei se esse deva ser o objetivo primordial do Brasil, por agora. Não faço ideia. Até porque, se você me perguntasse se eu imaginaria que um dia haveria um presidente negro nos Estados Unidos, eu diria não. No final, estaria errado. Não sou muito bom nessas especulações. Penso que a população brasileira deveria se focar mais na igualdade, na inclusão dos cidadãos no mainstream (posição de destaque). Assegurar que deve haver mais negros com educação, moradia, empregos, na classe média. Penso que esse deva ser o foco.
(Entrevista exclusiva concedida ao site A TARDE)


quinta-feira, 26 de novembro de 2015


Racismo
 Porque é tão difícil entendermos que somos iguais?

Josiany Dórea
Rasgue a exclusão
Rasgue a discriminação
Rasgue o racismo
Rasgue o preconceito
Temos o direito de ser iguais quando a diferença nos inferioriza
Temos o direito de ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza
Heduardo Kiesse

Vejamos um texto reflexivo que nos remete sentimentos de revolta e indignação por ainda estarmos caminhando em passos lentos, porém, largos. Contudo, sabemos que é possível mudar a partir de uma consciência coletiva com atitudes nobres e educativas para as novas gerações. Vamos acreditar!!!
Esse é meu Grove!”, disse Deise Sousa, percussionista, às vezes poeta, feminista negra militante, assistente social, técnica do projeto Ponto de Cidadania e mestranda no Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo (PPGNEIM) da Universidade Federal da Bahia.
                                  LIBERDADE É LUTAR
Imagem: Zumbi 
- Obra da artista plástica brasileira 
Zulmira Gomes
Falar do dia 20 de novembro, enquanto mulher negra, feminista e militante, é mais um dia de reflexão, é mais um dia para demarcamos os nossos passos na direção do construto de luta contra a discriminação racial nas relações sociais que implicam nas assimetrias de gênero em busca da minha/nossa liberdade. Movida por um sentimento de justiça e indignação, meu lugar de fala é como militante e assistente social que atua na garantia dos Direitos Humanos para População em Situação de Rua.
Nessas circunstâncias, por “sermos diferentes”, que a minha memória insiste em ver as lágrimas vermelhas derramando sobre a pele escura. É um sentimento que reverbera dor, toda vez que puxo a respiração e sinto que sou atravessada pelo racismo, contaminado de machismo, misoginia e sexismo. Esse conjunto de opressões impulsionou as mulheres de minha família e outras mulheres negras a ocuparem espaços de subalternidade.
O racismo, acompanhado do estado heteropatriacal, indissociável de suas faces perversas, opera com ações simbólicas e materiais carregadas com as intersecções que objetivamente alimentam as matizes opressoras com efeito devastador em nossas vidas. No pensamento de Audre Lorde, ela enfatiza que “É aprender a tomar nossas diferenças e torná-las forças, pois as ferramentas do senhor nunca vão desmantelar a casa-grande”.
A chaga aberta do racismo, se arvora em proferir ideologia de uma sociedade racista e fascista que constrói de maneira estratégica a perpetuação e reprodução do mito da igualdade racial. Assim, quando olho para dentro de mim e para meus pares, vejo homens e mulheres cotidianamente na labuta da sobrevivência. Decerto, corroboro com Jurema Werneck, que afirma: “NOSSOS PASSOS VÊM DE LONGE”. 
Portanto, ainda que o capitalismo patriarcal queira nos conduzir à margem da sociedade, nós resistimos; em especial, nós, mulheres negras, que quebramos paradigmas. Aqui, trago um exemplo de minha vida que certamente converge com outras histórias, em que apenas a terceira geração de mulheres de minha família conseguiu adentrar nas universidades. Ainda que, “nesse lugar” de luta, não estejamos livres de experimentar o sabor amargo do racismo, bem como não nos furtamos em esquecer a cena que revisita a minha/nossa memória por me ver e me identificar com a tragédia vivenciada por Cláudia Silva Ferreira, arrastada por uma viatura da Polícia Militar do Rio de Janeiro até a morte, ali é o meu sexo, meus lábios grossos, é o meu cabelo crespo, minhas idades, é naquele corpo que sustenta a minha classe, minha raça, minha história.
Precisamos resistir e criar estratégias de superação e combate ao racismo para que nossas crianças negras, oriundas da periferia, não experimentem vivências vexatórias como eu experimentei na minha infância, como mostra a letra da música “Nega do cabelo duro”, exemplos que tendem a produzir e reproduzir modelos na contramão da construção da autoestima, do protagonismo e do empoderamento delas.
            Resistimos, mesmo quando os nossos jovens são violentados pelo braço armado do Estado, justificando a sua ação racista na política de combate às drogas balizando um terreno fértil para ceifar a vida de nossa juventude negra e pobre. O saudoso Gey Espinheira pontuava essa ação como “negrocídio”.
Na semana do dia 20 de novembro, a tristeza toma meu peito com a perda de mais um guerreiro que o sistema projetou para as práticas transgressoras, homem negro, de uma sensibilidade e inteligência destacada, mas a sociedade excludente lhe deu régua e compasso, pois não basta ser pobre, faz-se necessário criminalizar a pobreza. Foi uma morte individual e concomitante coletiva, pois ramifica para outros espaços que simbolicamente afetam a saúde mental comunitária e, em especial, a familiar.
É mais uma mãe negra que chora pela perda de seu filho, é mais um filho que cresce sem a presença afetiva de um pai, é mais uma mulher negra sozinha que irá trabalhar potencialmente mais para prover a subsistência de sua família.
Com toda conjuntura negativa do contexto histórico do racismo ainda perpetrado no Brasil, nós resistimos engajadas/os com a luta do movimento negro, que culminou em diversas ações de políticas afirmativas, criação de leis e secretárias nas três esferas governamentais, atualmente avançamos com a ONU, proclamando a década internacional afrodescendente, que institui de 1º de janeiro de 2015 a 31 de dezembro de 2024 o tema: “Reconhecimento, Justiça e Desenvolvimento”, objetivando promover o respeito, a proteção e a garantia de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais dos afrodescendentes".
A Bahia foi o primeiro estado a aderir à proposta da SEPPIR. Assim, é importante celebrar as conquistas, mas não esqueçamos de apontar os desafios em reparar séculos de exclusão, opressão e exploração, contudo, estamos avançando com incansáveis passos largos para superação da desigualdade racial, intolerância religiosa e xenofobia que acomete a nossa população negra. 
Há um paradoxo nessa caminhada, estejamos atentos e atentas às máscaras da conjuntura política, econômica e neoliberal do Estado, porque ele tem cor e é macho. 
Precisamos combater o patriarcado e seus privilégios que usufruem de instrumentos materiais e ideológicos para manter-se no “berço esplêndido”. Será que nesse lugar não cabem as nossas diferenças ou alguma coisa está dentro da ordem para permanecer as desigualdades? Assim, sigamos com a Nação Zumbi: “Um homem/mulher roubado/a nunca se engana”.
As nossas lentes de gênero, classe e raça precisam estar afiadas, pois é lutando que mandamos o racismo embora. Que sejamos as mãos, os pés, os pensamentos e a voz para efetivar a justiça e igualdade de direitos. Que a nossa história esteja firme e segura em nossas mãos. Finalizo este ensaio com o pensamento negro de Nina Simone: “Liberdade para mim é isto: Não ter medo”.


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Formar cidadãos consumidores com consciência crítica e princípios éticos.
Será possível?
                                                                                                                                     

Josiany Dórea


Como podemos conscientizar os jovens sobre o consumismo exacerbado? Qual o papel da Escola? A escola pode ajudar? E qual o caminho para um consumismo saudável, sem exageros? São questões que estimulam nossa reflexão.

Acreditamos que a escola é o instrumento mais adaptável para a conscientização dos jovens consumidores em formação.

Vejamos um texto da professora mineira, Terezinha Rios que nos remete a refletir sobre a difícil arte de consumir com consciência crítica, em nossa contemporaneidade.   

                                                   Consumir é viver?
A escola precisa formar cidadãos conscientes que sejam capazes de construir uma sociedade crítica.

Construir a vida boa - essa é a finalidade de uma ação que se fundamenta nos princípios éticos. Na perspectiva da moral, temos muitos critérios e referências para qualificar como boa a vida das pessoas. Há os que julgam que ela é fruto do poder que se exerce sobre os outros. Há também quem a associe à posse de bens e à satisfação de desejos, quaisquer que sejam eles - situações que, na sociedade contemporânea, estão estreitamente ligadas ao consumo. A posse de coisas, de dinheiro e até de pessoas tem sido algo bastante estimulado, revelando valores nem sempre fundamentados em princípios sólidos. Os indivíduos se mobilizam para adquirir aquilo que lhes dê prestígio, o destaque dos demais e os faça ocupar lugares privilegiados no cenário social. Poder comprar é importante, mas poder comprar o que não está alcance de outros é apresentado como garantia de felicidade. A vida boa, feliz, tem sido frequentemente identificada como aquela em que se pode consumir. A imagem do cidadão confunde-se, então, com a do consumidor.
É importante pensar no papel que a instituição de ensino desempenha nesse contexto e na responsabilidade dos gestores em relação ao que se vivencia no cotidiano educacional. É preciso indagar, criticamente, se a escola - que se propõe a formar cidadãos - não tem contribuído para o desenvolvimento do espírito consumista, assim como que riscos ela corre ao se deixar levar pelos apelos feitos pela mídia, pelos veículos de publicidade e até mesmo pelas famílias.
No livro A Ética É Possível num Mundo de Consumidores? cuja leitura recomendo, o pensador polonês Zygmunt Bauman nos alerta em relação a cenários preocupantes no que diz respeito a essa questão. Ele faz referência à Educação como algo que pode contribuir para uma resposta afirmativa à pergunta-título da obra. O processo de ensino e de aprendizado é um movimento de construção da humanidade, de criação e recriação de cultura. Esta, fruto do trabalho, tem como objetivo satisfazer as necessidades humanas. Contudo, ao elaborar os produtos culturais, os indivíduos não atendem apenas às necessidades básicas, mas inventam novos itens indispensáveis. Isso faz parte do que nos constitui como pessoas, porém, a maneira como as necessidades são exploradas em cada contexto social pode ser problemática. É a esse assunto que nos referimos quando falamos em um mundo de consumidores. Em vez do alimento, há um apelo para que busquemos determinados produtos e marcas. Mais que lazer, procuramos aquilo que nos é apresentado como o que faz sucesso.
"Consumir é viver, conviver é sumir", canta Paulinho da Viola em um de seus sambas, no qual traz uma crítica aguda à vida transformada em supermercado, em shopping center. A escola tem de ter claro que conviver é a palavra de ordem não para sumir, mas para aparecer, no espaço político, como participante da construção da sociedade. Daí ser indispensável um projeto de conscientização e de diálogo frequente em relação aos valores que sustentam o trabalho. Se a resposta que dermos a Bauman for negativa, teremos perdido a esperança, que não se compra - é algo que se sente e se partilha. A escola necessita recorrer à ética e criar espaço para que possamos "esperançar".


 
Publicado em GESTAO ESCOLAR, Edição 019.





Terezinha Rios é graduada em Filosofia e doutora em Educação.