domingo, 5 de fevereiro de 2012

Relato de Janaina Martins

Por Josiany Dórea
Colaborações: Jocilene Dórea
e Josemary Dórea
Por Josiany Dórea
Colaborações: Jocilene Dórea
e Josemary Dórea

Janaina Martins é Fisioterapeuta, Acupunturista e Fitoterapeuta Chinesa, e relata um pouco a sua história de vida, após descobrir um tumor em sua coluna vertebral. Entre a paixão em ajudar pessoas na reabilitação de seus movimentos, passou a ser paciente dependente da ajuda de médicos, amigos, fisioterapeutas e da família para sobreviver e mudar o rumo de sua história após seis anos de tratamento intensivo. Encontrou nos benefícios da Acupuntura, força, resignação e fé. Assim segue seu relato.

Desde criança, sempre gostei de estudar, minha vida sempre foi focada nisso. A situação financeira da minha família ficou muito difícil, e então tive que batalhar muito. Na Universidade, comecei estudando Farmácia acabei deixando. Queria ser fisioterapeuta, era minha paixão. A Faculdade era particular, só consegui fazer pelo crédito educativo. Com a ajuda da minha família, depois de dois anos de formada, consegui montar minha clínica.

Um ano depois, estava no auge da felicidade tanto na vida pessoal (namorado que depois se tornou meu noivo) quanto profissional. Quando comecei a sentir uma dor no peito, fiz um Raio-X do tórax que deu normal, mas a dor era muito intensa. Depois passou para a coluna torácica e quando trabalhava, piorava muito. Então fui a uma emergência e o médico passou um Tylex e mandou-me para casa.

Como a dor não passou voltei ao médico, e no Raio-X foi constatado que tinha escoliose o que não justificava a dor que sentia, então pedi para fazer uma Ressonância. Quando fiz o exame, o médico me chamou numa sala e disse que eu tinha um tumor na coluna que precisava ser retirado o quanto antes. Quando o médico falou isso desabei a chorar, sabia que não ia voltar ao normal, ainda mais para exercer a minha profissão. Ele orientou procurar um especialista em coluna, disse que essas cirurgias estavam muito avançadas e que eu podia ficar bem. Sai de lá arrasada, era como se tivesse recebido uma sentença de morte.

A partir daí, não conseguia mais fazer nada. Deixei minha clínica com minha mãe e minha Irmã. Procurei Dr. Gildásio Daltro (ortopedista amigo da família) que mandou fazer exames com urgência e me encaminhou para o Dr. Ricardo Cotias. Com os resultados, Dr. Ricardo explicou tratar-se de uma situação muito grave e que precisaria fazer duas cirurgias. Primeiro abrir a frente do tórax para retirada do tumor e ficar 15 dias na UTI para depois abrir a parte posterior para fazer a fixação da coluna. Contudo, ele advertiu que seria muito arriscado que precisava estudar o caso.

Passados alguns dias, Dr. Ricardo informou que faria uma só cirurgia, juntamente com uma equipe de tórax, mas que precisaria colocar uma peça para substituir a vértebra invadida e fraturada pelo tumor, que a essa altura já comprimia a medula. A história agora foi com o convênio para liberar, pois era uma peça importada que não tinha no Brasil. Eu não aguentava mais levantar, tomava remédios fortes pra dor, até morfina. O sofrimento só aumentava também da minha família, principalmente minha mãe e o meu noivo que foi essencial nesse momento da minha vida. O tumor foi descoberto no dia 27/04 e no dia 12/06/2003 eu fiz a cirurgia. Para sua realização foi necessária minha autorização registrada em cartório constando que poderia ir a óbito, ter uma infecção ou ficar paraplégica e as chances de ficar normal eram mínimas.

No dia da cirurgia minha mãe falou: “você esta tão calma, nem parece que vai fazer uma cirurgia dessa!”. Respondi: não tenho outra saída...

No centro cirúrgico o médico teve que mudar os planos, pois, do último exame o tumor já havia crescido muito, a peça que ele tinha pedido não dava mais para compor o lugar da vértebra danificada. Então, ele teve que tirar uma costela, dois discos e um enxerto do ilíaco que não estava nos planos e colocou na coluna uma haste e dois parafusos. Depois de onze horas de cirurgia, Dr. Ricardo me pediu pra mexer o pé, e quando o fiz, ele respirou aliviado! Por isso, fui obrigada a usar um colete que só tirava pra tomar banho durante um ano.

Na UTI foi uma noite terrível, urrava de dor, até que uma colega fisioterapeuta fez uma mobilização no meu ombro e a dor melhorou, pois, era o dreno que estava mal posicionado. Já tinham me aplicado morfina, dolantina e até anestésico local, sem sucesso.

Quando fui para a enfermaria, passei dias e noites terríveis. As enfermeiras e auxiliares não davam atenção, nem as sirenes funcionavam. Sofri horrores com o atendimento. No entanto, neste período, contei com a preciosa ajuda de uma paciente (Elisabete) que saía do trabalho há quilômetros do hospital para me servir o almoço. Depois ela tornou-se minha madrinha de casamento.

Com dez dias tive alta e fui para casa com o colete. O médico tinha falado para minha mãe que não tinha conseguido tirar o tumor todo, e que ele já tinha marcado o oncologista, mas quando veio o resultado, a biopsia indicou um tumor benigno. Repetimos o exame e o resultado confirmou-se. Dr. Ricardo explicou que se tratava de um tumor muito raro, e na coluna mais raro ainda e que ele só seria maligno se voltasse nos primeiros cinco anos.

Fiquei um tempo na cadeira de rodas, andava com muita dificuldade. Fiquei com sequela de dor crônica, diminuição de força e sensibilidade do lado esquerdo do corpo, e para completar sou canhota.

Os médicos disseram que eu não tinha condições de trabalhar. Vendi a minha clínica, foi um arraso na minha vida. Como se tivessem me tirado o chão! Quando soube da complexidade da cirurgia dispensei meu noivo, falei pra ele que era jovem, bonito e estava livre para seguir sua vida, já que não sabia o que ia acontecer comigo. E ele falou que ia ficar comigo até o fim, não importava o que acontecesse. E assim o fez.

Em casa, e depois em clínicas fiquei fazendo fisioterapia, hidroterapia, RPG, psicoterapia... E fui melhorando, porém comecei a engordar muito com a imobilidade e uma sacola de remédios.

Dois anos após a cirurgia, casei. Mas, as dores me limitavam muito e os remédios me deixavam letárgica. Eu tinha que procurar uma forma de aliviar a dor sem ter que tomar medicamentos. Até por que queria muito ser mãe. Iniciei um tratamento para emagrecer e logo sofri um aborto espontâneo. Continuei no meu propósito e com um ano de reeducação alimentar e hidroginástica, eliminei os vinte quilos que havia adquirido.

Foi então que procurei uma médica gastroenterologista (com queixa de prisão de ventre crônica) que solicitou o tratamento com a Acupuntura. Contudo, não obtive resultados significativos e as dores dificultavam meu deslocamento. Na relação custo/beneficio não estava compensando. Então deixei de fazer, mas tive o discernimento que o problema era a profissional e não a Acupuntura.

Decidi tentar novamente. Foi aí que encontrei a fisioterapeuta e a acupunturista Mirela Braga. Ela me explicou que a acupuntura trata a pessoa como um todo. Melhorariam as dores e também a depressão, que já me acompanhava há tempo e piorou com o fim do casamento. A prova foi que na primeira sessão de acupuntura meu intestino funcionou, o que só acontecia com laxante. As dores foram melhorando e o estado emocional também, mas sentia um enorme vazio sem meu trabalho. Comecei a me sentir mais disposta, então Mirela sugeriu que eu fizesse uma especialização em Acupuntura, para poder voltar a trabalhar, pois não precisaria fazer grande esforço físico, ela só avisou que tinha que estudar muito. E foi o que fiz.

Voltei a focar minha vida nos estudos e no cuidado com minha saúde. Foram dois anos de Pós-Graduação, sempre contando com o incentivo de Mirela, da minha família e amigos. No primeiro dia de estágio, usei o jaleco com bolso do meu último, bordado o meu nome, que minha mãe tinha guardado por seis anos, na esperança de que um dia pudesse voltar. Isto foi muito significativo para mim.

As dores melhoraram sobremaneira, chegando a um limiar que aprendi a conviver com elas, respeitando os meus limites. Os médicos ficaram impressionados com o resultado da Acupuntura no meu caso. Hoje respeitam e prescrevem este tratamento. Tenho pacientes em comum com Dr. Ricardo Cotias, meu cirurgião.

À medida que senti o excelente resultado da Acupuntura, como paciente, quis passar para outras pessoas, sinto-me na obrigação de fazer isso. Trabalho alguns períodos por semana, o que minha condição física permite. Minha missão é cuidar das pessoas. Quando recebo um paciente contando que não consegue sentir as pernas, por exemplo, sei realmente o que a pessoa está sentindo. Tento fazer sempre o melhor.

Quando perdemos a vontade de viver, perdemos tudo. Eu comecei a depressão antes de fazer a cirurgia e depois que fiquei doente da coluna, piorei porque é muito difícil você aceitar uma limitação tão grande. Com a separação ficou ainda mais difícil, mas consegui dar voltar por cima. A Acupuntura foi determinante também nesse aspecto. Hoje trabalho na Clínica que eu era paciente. Fiz Pós-Graduação em Farmacologia Chinesa junto com Mirela e agora vamos trabalhar juntas.

Quando conheci Mirela, minha vida mudou totalmente. Hoje, vejo que apesar das minhas limitações posso ter uma vida normal. É só aceitá-las e respeitá-las. O mais importante é o que posso fazer pelo outro. Como por exemplo, chegou um senhor hoje na clínica dizendo que não dormiu por causa da dor e ele fez acupuntura comigo. Levantou melhor e isso para mim não tem preço. Minha dor passa, diante disso. Quero levar este bem-estar para outras pessoas, pois muitas não conhecem Acupuntura e seus benefícios.

É muito importante ter fé! Nunca perguntei a Deus: porque eu? Sempre peço força e resignação para continuar.








Janaina Martins.
Acupuntura Sistêmica e Estética.
CREFITO-7: 38.382/ F



17 comentários:

  1. Janaina,

    Gostei muito do seu relato e entrevista. Você é um exemplo para todas as pessoas que são resistentes ao tratamento médico e não aceitam seguir as orientações médicas.
    Você é uma heroína e parabéns pelo seu desafio e pela pessoa corajosa que és.
    Abraços,
    Mariana.

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    1. Obrigada, Mariana! Espero que possa ajudar outras pessoas com a minha experiência.
      Um abraço!

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  2. Grande exemplo de vida!
    É muito comovente ver alguém utilizar a experiência vivida para tratar de outros que estejam em situação semelhante.

    Que Deus continue abençoando.

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    1. Obrigada! A idéia é essa mesmo!
      Um abraço!

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  3. ola querida, lembro de sua batalha contra a dor, e nos momento que atendiamos vc no abulatório, eu mesmo o fiz varias vezes com o auxilio de nossos amigos, lembor tbm vc me fazendo passar duas vezes na blits da lei seca eheh, mas vc sem dúvida é uma vencedora e uma o´tima acupunturista...parabens pelas conquistas!

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    1. Obrigada, meu querido! Vc tratou de mim e depois fomo comemorar! Um grande bjo! Vamos levar a Acupuntura pelo mundo!

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  4. Fiquei muito emocionada com o realto de Janáina, ela é a prova viva de que nunca devemos desistir dos nossos sonhos. Parabéns Janáina, por ser exemplo de força, garra e perseverança! E seja bem vinda ao nosso blog!

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  5. Fiquei muito emocionada com o realto de Janáina, ela é a prova viva de que nunca devemos desistir dos nossos sonhos. Parabéns Janáina, por ser exemplo de força, garra e perseverança! E seja bem vinda ao nosso blog!

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    1. Olá, Viviane!
      Quando Josiany me falou do blog, fiquei muito interessada e já vinha acompanhando as postagens, até que ela me fez o convite pra entrevista. Obrigada pela oportunidade de levar o conforto a muitas outras pessoas! Um abraço!

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  6. Fico muito feliz por você, Janaina, transformar a sua dor em esperança e conforto para as outras pessoas. Isto é uma prova de AMOR! Parabéns por pular tantos obstáculos da vida. Muita luz no seu caminho!

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    1. Muito obrigada! Vocês ajudam com uma lanterna norteadora, a muitas pessoas! Um abraço!

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  7. Valeu, Janaina pela sua pesistência para vencer os obstáculos que a vida nos oferece repentinamente. Observei que sua história de vida é muito importante para todos nós.
    Obrigado por continuar a lutar pela sua recuperação e não ter desistido da sua profissão.Agradeço por você continuar a praticá-la (a minha coluna agradece).
    Abraços,

    Ronaldo.

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    1. Obrigada! Estou esperando seu retorno.
      UM grande abraço!

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  8. Any(Josiany)

    Parabéns pela entrevista que fez e porque não dizer pela entrevistada Janaina Martins.
    Sou difícil de me emocionar com filmes e histórias, no entanto, lendo o relato de Janaina parei duas vezes, sem segurar o choro que me deixava sem enxergar direito. Ela realmente, para mim, é uma verdadeira heroína. Que lição de vida!
    O que se observa é que nas horas difíceis a família e os amigos são de grande importância na nossa vida; ainda mais umas amigas como Mirela e Elisabete.
    Mais uma vez PARABÉNS PARA JANAINA MARTINS.
    Um beijo grande,

    Tia Luzia.

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    1. Obrigada! É uma luta diária, mas como você mencionou, os amigos me dão uma grande força pra continuar! Um abraço!

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  9. Parabéns pelo modo que você conduz sua vida, que essa experiência continue a nortear sua vida e de tantos outros que precisam de ajuda. FORÇA E HONRA!!!
    Forte abraço,
    João Marcos Braga de Carvalho

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    1. Obrigada! A ajuda dos amigos é imprescindível nessa minha batalha diária. Grande abraço!

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